Homens de 30: Vamos conversar um pouco sobre HIV?

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Homens de 30: Vamos conversar um pouco sobre HIV?

Convidamos o psicoterapeuta e portador do vírus, Filipe Estevam, para abordar o assunto

Falar sobre HIV é sempre um tabu, o assunto vem rodeado de polêmicas e principalmente PRECONCEITO. Em um espaço que debate saúde e bem-estar, não entrar no assunto seria no mínimo uma falta de respeito com o público. Como o assunto requer seriedade e necessidade de embasamento, convidamos o psicoterapeuta Filipe Estevam, para abordar o tema, desmistificar e tirar diversas das nossas dúvidas. “Para driblarmos o preconceito, nada melhor que a informação. Eu, um homem de 30 (e muitos!) anos, que convivo com o vírus desde 2004, quero compartilhar aqui algumas das crenças mais teimosas sobre HIV e Aids e desmistificá-las para ajudar a transformar a visão sobre o assunto”, relata Filipe.
Ser portador do vírus fazendo o uso correto dos medicamentos, é a garantia de uma vida saudável, normal e sem a possibilidade de transmissão, restando apenas o preconceito a ser encarado pela sociedade, que na falta de informação se afasta e agride psicologicamente, aquele que precisa de apoio e incentivo para seguir em frente.
Confira o relato de Filipe Estevam e vamos entender a falar mais sobre HIV:
“37 anos já se passaram após o primeiro diagnóstico de AIDS no mundo. Fato é que muita coisa mudou desde então, a medicina evolui a passos largos no que se refere ao tratamento da doença, hoje em dia é possível conviver com o HIV e ter uma vida completamente saudável fazendo uso adequado dos medicamentos. Mesmo assim, muitas pessoas sofrem com a discriminação, preconceitos e com os estigmas da doença como se vivêssemos ainda nos anos 80.

Aproveitei este espaço dedicado a falar sobre bem-estar, saúde e vida de um homem de 30 e poucos anos, para falar de um assunto tão importante e que a cada dia se aproxima de todos nós, impactando nossa realidade direta ou indiretamente, mas que por inúmeros motivos, ainda temos medo e vergonha de falar sobre.
Para driblarmos o preconceito, nada melhor que a informação. Eu, um homem de 30 (e muitos!) anos, que convivo com o vírus desde 2004, quero compartilhar aqui algumas das crenças mais teimosas sobre HIV e Aids e desmistificá-las para ajudar a transformar a visão sobre o assunto.
HIV e Aids não é a mesma coisa! Tem muita gente que ainda se confunde. O HIV é o virus (Vírus da Imunodeficiência Humana) que transmite a doença. A Aids é a doença (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), ou seja, uma pessoa, que convive com o HIV e faz uso dos medicamentos corretos não terá a doença manifestada e pode seguir com sua vida de forma saudável. É comum uma pessoa que desconhece a sua sorologia (soro interrogativo) carregar o vírus e não ter a doença manifestada. Por isso a importância de fazer o teste com frequência.
Um motivo para se comemorar é que estudos recentes, comprovados cientificamente, mostram que pessoas que vivem com o vírus e que, por fazerem uso correto dos medicamentos, mantendo suas taxas de quantidade de vírus no organismo baixa (carga viral indetectável), já não mais transmite o vírus. Ou seja, Indetectável é Intransmissível (U=U).
Aids não é doença de gay! A verdade é que as últimas pesquisas mostram que o número de heterossexuais soropositivos vem aumentando, representando a maior parcela nas novas notificações de infecção pelo vírus HIV. Em 2012, 67,5% dos casos informados pela rede de saúde pertenciam ao grupo de heterossexuais, sendo a maioria formada por mulheres com 58,2%. Entretanto, é importante deixar claro que AIDS não é uma doença exclusiva de homossexuais, prostitutas ou usuários de drogas. AIDS e HIV não tem preconceitos e por isso não escolhe grupo, cor, religião ou conta bancária! A verdade é que todos, sem exceção, que mantém uma vida sexual ativa; que não se previnem ou compartilham seringas contaminadas; ou que têm qualquer outro comportamento de risco, estão propensos a adquirir a doença!
Outro fato importante é que HIV “não tem cara”! Com todos os avanços na medicina e com remédios com menos efeitos colaterais, é possível ter uma vida extremamente saudável. Quem convive com o HIV tem pouca probabilidade de manifestar a doença, que é a responsável por aquela aparência frágil e debilitada. Na maioria das vezes não existe nenhuma evidência estética que fale sobre a sorologia de uma pessoa. HIV não tem cara, a melhor opção ainda é evitar comportamentos de risco.
Agora se você vive essa realidade diretamente e lidar com HIV é um desafio para você, procure ajuda! Fazendo uso dos medicamentos adequados e com acompanhamento médico e terapêutico é possível ter uma vida completamente saudável.
E para você que não convive com o vírus e ainda acha que HIV não tem nada a ver com você, é muito provável que uma pessoa muito próxima esteja vivendo com o vírus e talvez esteja na solidão, precisando do seu apoio. Hoje somos mais de 34 milhões de pessoas convivendo com o vírus em todo o mundo.
Tanto para um caso como para o outro, lembre-se: pode ser leve!”
Por Filipe Estevam. Psicoterapeuta, especialista em HIV.
insta: @filipe.estevam.leve
e-mail: conversecomaleve@gmail.com